sábado, 1 de outubro de 2011





Génesis Ou Na Terra Do Início Dos Tempos






para o Bruno Costa,





Senta-se a solidão arrastada ao balcão e a sombra leva-a na proximidade de um sorriso,

E o que vai ser amigo, uma daquelas, que lavam o esquecimento dos sonhos desistentes,

Tornados em quase memórias na cinza da lareira apagada pelas madrugadas frias

Só para que o desespero se sinta na medida dos dedos que o futuro tornou inúteis

E pequenos quando veio, sou o presente, chegaste e nunca te moveste verdadeiramente,

Ri-se o tempo, lá fora, enquanto passa, mais um cabelo branco, um dente que começa a doer,

A filha que afinal herdou a inocência perdida da mãe e o sonho de Sol e sinceridade

No escuro de uma cidade velha a ser levado pelo rio do desejo mórbido do destino

De barba ridícula, perseguem as recordações falhadas dos três dias a tornar a pele

Vermelha, os olhos em chamas, mais uma daquelas ó patrão, esta leva o que as mãos

Perderam da dor que insiste, esta traz a ilusão de mais uma noite fabulosa, e mais uma

Menos uma, algo virá, algo virá, nem que se rasgue a noite até as padarias abrirem, na cidade

Onde se nasceu e os dedos satisfeitos do vício que é a carne de dezanove anos,

Mas desta vez não se troca a paixão pelo cansaço, vai além dos limites que te esperam,

Ao fim da tarde já um cigarro te irá acordar, a voz regressará e será tua, mais um café,

Um sorriso, que os sonhos são eternos na espera constante pela sua verdade, a sua verdade

Que vive antes de serem, como todos os que não nasceram e foi uma pena,

Podiam ter sido um amigo, um brinde, um beijo quase dentes a tornar a própria pele

Numa dor adiada, na solidão que virá, a que leva o canto do café da terra.






30.09.2011





Porto





João Bosco da Silva