quinta-feira, 30 de março de 2023

 

À Espera no Mecânico

 

Timidamente, com a voz cansada dos últimos anos,

Pergunta se lhe querem também comprar os pneus do carro,

Pois sabe, amanhã acaba a validade da minha carta,

O jovem não percebe à primeira, então num esforço

Ainda maior, repete, que depois de amanhã,

Não poderá conduzir mais, quase humilhado,

Um elefante que caminha em direção ao isolamento

Do cemitério, longe da sociedade activa,

Humilhado pela proximidade da inevitabilidade,

Antes desta se concretizar, um fim anunciado,

Ao que o jovem responde que não, não se apercebendo

Que o interesse era ele tornar-se testemunha também,

Daquele fim, daquela data que o afastará um pouco mais da vida.

 

30.03.2023

 

Turku

 

João Bosco da Silva