sábado, 4 de setembro de 2010



Aqui Nunca É

Ali sim, seriam todos felizes, aquele lugar antes da chegada,
Antes de os pés marcarem com a presença física , ali sim,
Onde só o sonho é ainda, onde só os olhos chegam a muito custo
E não é o que dizem ao cérebro que vêem.
Pregam a alma nas árvores brancas, como se o apocalipse viesse com as estrelas,
Como se valesse a pena ficar para o vazio,
Deixam os cães soltos com medo dos salteadores que vivem dentro da gente,
Cortam o verde com medo de que a amargura não venha,
Vem sempre, às lambidelas ácidas nas feridas que ficam pelo caminho,
Abertas e as moscas, sempre moscas, negras de olhos demasiado olhos para a consciência,
Cospem nas sagradas memórias ainda a latejar na pele do que se é.
Mas ali sim, ali todos terão tudo, quando ainda vem dentro o desejo,
Ali, onde os lagos são como o ventre quente de uma terra fértil,
Que recebe os corpos cansados das violências do dia que morre, lentamente,
Até ao pescoço, com os olhos lá longe e a fazer crescer o indivíduo pelo horizonte,
Quebrando o limite do, sou da pele para dentro, até ao fim, além que foi ali.
(Sou dos olhos para fora e o que dos olhos me vem.)
O tempo aumenta a impossibilidade da distância e só o perfume traz o que ficou,
Só o olhar tenta dizer o que se cala, só a dor, a dor dá comprimento aos braços para o abraço de longe.
Agarram-se com os dentes ao que não se é, sempre em qualquer lugar, menos ali,
Sempre má, sempre má e a culpa é por não se estar ali.
Condenados do dia e da noite até ao aqui onde não se estará,
Por fim uma paz, ou nada, quase ali, ao lado da incerteza, quase no sonho, no fim que nunca se toca.

03.09.2010

Torre de Dona Chama

João Bosco da Silva