Crepúsculo
Já que cheguei a esta hora
E a noite foi longa,
Gostava de ver o amanhecer
Azul.
O sono é inconveniente
E quando mais valem a pena
Os olhos, cansados,
Fecham-se e o dia
Nunca chegará
Ao que por ele
Tentou esperar.
Ville Sillanpää
Descontentamento Presente
Quantas vezes desejei acordar e estar aqui e agora sei
Que amanhã será uma desilusão ao acordar e ter à espera
A cor que já não se espera. Aquela noite perdida, longe
E tão cheia de possibilidades na sua impossibilidade real
Com tantos renascimentos de momentos, que afinal, bolorentos,
Cansados, mortos e tudo um mais uma vez suspirado a caminho
Da mesma casa, agora demasiado próxima.
É tudo tão belo quando longe. Os olhos são inimigos da proximidade
E o coração cansa-se dos espaços fechados.
Se ao menos se pudesse viver perto da vida, sem ter que sentir
Todas as suas imperfeições de coisa real.
As actrizes são sempre mais bonitas quando não se lhe sente o cheiro
E a sua vida é sempre uma ficção nos nossos olhos.
Porque é que o real sempre nos encosta contra a parede
Das nossas limitações e nos rasga quando passa?
Não há nada mais belo que um dia que passa sem me tocar,
Dos que não se levam, dos que não se querem de volta,
Dos que são mais vida, que acabam e só porque começaram,
Tinham que acabar.
22.12.2010
Torre de Dona Chama
João Bosco da Silva
Fim
Agora que te observo de perto
E sinto o teu peso real na minhas mãos,
Sei que o esforço foi algo
Que só a ilusão podia motivar.
Agora que vejo realmente,
Com a clareza que a proximidade,
Mesmo que te afastes,
Revela, abro as minhas mãos,
Deixo-te cair onde já mora
A paixão.
Não deixo de sentir a estranha
Dor pela falta da tua presença
E um alívio incompleto.
Ville Sillanpää
Arrefecimento
Queria poder explicar-te,
Enquanto bebes e sorris
E te afastas de mim
Como as horas da vida,
Porque não te sinto
Mais próxima do teu coração.
Os meios beijos tornaram-se
Meio vazios e o frio
Um vulto que vira as costas
Sem se despedir com um olhar
Quente.
Será isto o fim de um quase
Amor, que só teve coragem
Quando o verão
Acabou?
Não sei se foi cansaço
Por mãos cheias de mim,
Agora a afastarem-me,
Só sei que chegou e
Nunca foi suficiente.
Ville Sillanpää