sábado, 14 de março de 2015

Da Inocência

O pôr-do-sol parecia algo tão natural como a bola da nivea ou aquela
Imagem nos pacotes de batatas fritas, aquilo era amor então,
Um banco de jardim e duas pessoas, mais tarde, milhões de vidas
Depois, vi uma chupar outra num banco de jardim por um pedaço
De algo, num saco pequeno, não havia Sol, era de madrugada,
O mar estava perto, as minhas mãos estavam secas,
Alguém me chupou depois de me ter pago uma pizza,
Ao menos eu tinha a bola da nivea na memória e aquele
Pôr-do-sol no pacote de batatas fritas dos anos oitenta,
Se ela me tivesse visto com aquele fato branco e sapatos brancos
Enquanto se festejava o aniversário da menina dos vizinhos de cima,
Até os sapatos brancos, sem cordões, faltava-me o testarossa
Numa escala que coubesse nas minhas mãos,
Já nem sei se pacote de batatas fritas, ou uma caixa qualquer,
Daquelas coisas estranhas que os adultos usavam para nos evitarem,
Seria mais isso, a bola dizem que a tiraram, alguém pagou mais ou menos,
A areia cada vez menos, o café ainda vende pastéis de nata,
A filha da peixeira não se lembra sequer do meu fascínio pelas
Cerejas nas orelhas dela, o meu melhor amigo, hoje, alguém importante
E este poema algo que nem tem pegas por onde se acabe.

14.03.2015

Turku


João Bosco da Silva

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