De Um Poema Sobre Lentes De Contacto No Metro De Londres
Porra, pensava que vinha de um país decente, apesar das ruas
vesgas
E do lixo esquecido nos fins de semana, tinha um certo
orgulho na cor dos olhos
E na genética estrangulada por montanhas, parecia-me ser tão
natural ser puta
Como engolir hóstias e confissões de Domingo, nem estranhava
que
Os trabalhadores que andavam a restaurar a casa dos meus
pais
Falassem mais depois do almoço, imaginava como seria
possível
Burros e carros de vacas com meio metro de neve mas ruas sem
paralelos,
Mentir parecia-me ser uma qualidade dos políticos, os mais
aldrabões,
Os melhores, porra, pensava que se podia ficar doente e que
se era
Gente independentemente da carteira, até pensava que era
normal
Nascer-se em hospitais da periferia e ser-se da terra,
afinal um gajo
Tem que nascer na estrada, devem ser coisas do rei da beat,
Não sei, a pobreza parecia-me ser uma coisa normal e
essencial,
Uma questão de referência, mesmo que andasse com roupa
Em segunda ou terceira mão, ainda havia gente que pedia nas
ruas,
Achava que era rico, a minha mãe é que não encontrava os
brinquedos que
Eu pedia, mas encontrava sempre algo parecido que durava
pouco
Mas eu restaurava com cabeças de papel e membros de cortiça,
Achava normal não se consumir como era esperado, porra,
Como eu estava certo na altura, com aquela miopia infantil,
Agora de longe vejo melhor, porra de lentes de contacto,
Que me destruíram o paraíso, mas voltarei sim, claro que
voltarei,
Quem quer ser enterrado onde o Sol não chega aos ossos.
14.03.2015
Turku
João Bosco da Silva
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