terça-feira, 18 de setembro de 2018

Bolaño nº3 

Dois ou três fígados à frente, ando há semanas 
Para encontrar versos para isto, não era Dostoievsky 
À espera de uma bala, era o Bolaño à espera de um fígado, 
Contudo, não houve uma morte compatível, 
Um acidente feliz, por isso os dedos pararam, 
Mas quem terão sido os dois primeiros na fila, 
Que terão eles dado ao mundo com os anos extra, 
Filhos, já começam a cair das falésias como escorregam dos beiços, 
Mas quem se importa com palavras que podem salvar o mundo, 
Tudo pode salvar o mundo, mas no fim fica tudo na mesma, 
Umas horas colados a páginas, será isto o paraíso, 
Terão estes olhos visto a verdade que os dedos fizeram papel, 
Mais vale mais um filho, mal criado, mais um passo 
Para a extinção na ilusão de mais uma geração em direção ao apocalipse, 
Ao menos os meus olhos, ou do padeiro, naquele crânio 
Calcinado pelo último fogo, escorpiões com asas, 
Seja o que for que escreveram no livro com o mesmo nome, 
Dois fígados, na verdade nem era preciso tanto, bastava um pedaço, 
Desde que fosse compatível, tantos depois terão dito, 
Daria o meu todo, tão fácil, tudo, quando demasiado tarde. 

18.09.2018 

Turku 

João Bosco da Silva

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