quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Das Tripas Coração

Entrar num café e pedir solidão que te trazem num frasco,
Com um sorriso nos lábios contra o cheiro a formol,
Se soubesses que era o teu coração, tinhas pedido quente,
Assim vai como o resto das tripas, frio, enquanto ao lado,
Todos os amores curtos como a eternidade de um universo
Pequeno, tentam medir a profundidade nos olhos uns dos outros,
Quando na verdade apenas a vontade funda e a curiosidade
Do aperto, mais um nome para esquecer, uma idade para lembrar,
Um sinal num lugar estranho, um país exótico,
O tempo ridículo até ao esquecimento em três espasmos,
A solidão familiar, dura como um polvo cozido que se tirou
Do frigorífico, depois de acabar mais um Natal, um ano,
Uma vida que se tocou, para se abandonar no meio
Da roupa que já não se usa, ainda com o cheiro
Daqueles dias quentes, manhãs geadas, tabacos estrangeiros,
Mastiga-se na certeza de mais um fim, como tudo.

Turku

03.01.2018

João Bosco da Silva

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