segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Carta Perdida 

Lembras-te do tempo em que me encerrava na casa de banho 
A ler Bukowski trazido da biblioteca e a rabiscar poemas 
Sobre um amor que devia ter ficado a apodrecer no seu nojo, 
Enquanto tu dormias, os vizinhos fodiam, depois mijavam, 
Puxavam o autoclismo e enquanto ouvia a água a correr 
Pelos canos algures nas têmporas, acabava mais um poema de merda 
E tu orgulhavas-te de mim, se calhar por nunca me teres lido, 
Porque a língua uma distância palpável entre nós, 
Agora, dentro de ti cresce algo que nunca fui, 
Algo que nunca serei, não sei sequer se me arrependo, 
Mas na verdade, sempre brinquei com a tristeza,  
Como alguns brincam com o fogo no verão, 
Espero-te bem e desculpa-me os pequenos infernos 
Privados, encerrado em casas de banho na madrugada. 

Turku 

27.01.2019 

João Bosco da Silva

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