Carta Perdida
Lembras-te do tempo em que me encerrava na casa de banho
A ler Bukowski trazido da biblioteca e a rabiscar poemas
Sobre um amor que devia ter ficado a apodrecer no seu nojo,
Enquanto tu dormias, os vizinhos fodiam, depois mijavam,
Puxavam o autoclismo e enquanto ouvia a água a correr
Pelos canos algures nas têmporas, acabava mais um poema de merda
E tu orgulhavas-te de mim, se calhar por nunca me teres lido,
Porque a língua uma distância palpável entre nós,
Agora, dentro de ti cresce algo que nunca fui,
Algo que nunca serei, não sei sequer se me arrependo,
Mas na verdade, sempre brinquei com a tristeza,
Como alguns brincam com o fogo no verão,
Espero-te bem e desculpa-me os pequenos infernos
Privados, encerrado em casas de banho na madrugada.
Turku
27.01.2019
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