os poetas brancos
os poetas brancos geralmente batem bem cedo
e continuam a bater e a tocar
a tocar e a bater
mesmo que as persianas estejam fechadas;
finalmente ergo-me com a minha ressaca
julgando que tal persistência
deve trazer felicidade, um prémio
qualquer – feminino ou monetário,
“já vai! já vai!” grito eu
procurando algo para cobrir o meu corpo
feio e nu. às vezes tenho que vomitar primeiro,
depois gargarejar; o gargarejo só me faz vomitar outra vez.
esqueço-me disso – vou até à porta –
“sim?”
“és o Bukowski?”
“sim. entra.”
sentámo-nos e olhámos um para o outro –
ele muito vigoroso e jovem –
roupa último grito da moda –
toda cores e seda –
“lembras-te de mim?” ele
pergunta.
“não.”
“eu estive aqui antes. tu foste bastante seco. não gostaste
dos meus
poemas.”
“existem bastantes razões para não gostar de
poemas.”
“lê estes.”
põe-mos à frente. eram mais lisos que o papel onde estavam
escritos. não tinham nem carraça nem
chama. nem um som, nunca li tão
pouco.
“hum”, disse, “hum-hum”
“queres dizer que não GOSTASTE
deles?”
“não há nada aqui – é como um pote de mijo evaporado.”
Ele pegou nos papéis, ergueu-se e andou
às voltas. “olha, Bukowski. eu arranjo-te umas gajas de
Malibu,
gajas como nunca
viste.”
“ai sim, querido? Perguntei.
“sim, sim”, diz
ele.
e saiu porta
fora.
suas gajas de Malibu eram como os seus
poemas: elas
nunca chegaram.
Charles Bukowski, in Mokingbird Wish Me Luck (Blacksparrowpress, 1972)
Tradução: João Bosco da Silva
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