terça-feira, 16 de setembro de 2025

 


Arde o Passado

 

“Aún enloquecen

aquellas madres en mis venas.”

António Gamoneda

 

Quantas mães desperdicei pelo meu gosto

Àquele brilho de esperma ao luar

Sobre a humilhação da pele

À convulsão do prazer,

O orgasmo é um abismo do qual se acorda

Para um arrependimento peculiar,

Agora sonho e sonham

Numa medida proporcional aos secretos desejos

Que os olhos aprenderam a esconder

Com o peso dos anos e a vergonha evidente dos espelhos,

Querer é um livro por abrir que ficará a meio,

Tudo não passa de um incêndio a frio

Numa noite de promessas ignoradas

Pela definitiva despedida.

 

Torre de Dona Chama

 

20/08/2025

 

João Bosco da Silva

 


Regressar

 

Como se regressa ao que já não é o mesmo,

Só as pedras permanecem ainda,

Os gatos apenas uma companhia na memória,

Os cães um nome e pouco mais, tomates, feijões,

Batatas, o que quer que se tenham tornado,

Tudo comida para vermes, só as fragas mantêm

A mesma forma, o musgo mais ou menos verde,

Ou queimado, regressar é sempre uma ilusão

Que impingimos àquele que também já não somos.

 

No ar

 

18/08/2025

 

João Bosco da Silva