Velha Vendedora de Lenços
O que te levará, velhinha, a acordar tão cedo,
Para arrastares o teu carro cheio de pacotes de lenços,
Até ao porto de Pireus e como quem pede esmola,
Com esses olhos baços de quem viu demasiado,
Com uma dignidade silenciosa, passas pelos que esperam
Os barcos, entre o sono e a indiferença de mundos
Que nem tu conheces, mostrando a tua preciosa mercadoria,
Um pacote de lenços, que sempre fazem falta,
Como tudo o descartável, como se a vida,
Numa escala cósmica, não fosse também, um lenço de papel,
Compro-lhe um pacote e nos olhos baços
Uma nuvem se move e me deixa de troco um sorriso puro
Como a brisa marítima do Egeu e o sol finalmente se revela.
Hidra
30.09.2025
João Bosco da Silva
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