quinta-feira, 1 de maio de 2025

 


Velha Camisa

 

O que restará de ti, nesta camisa, onde

Te verteste com uma força além da vontade,

Eu surpreendido com a calibração fisiológica

Dos teus dezanove ou vinte anos,

Já depois de ter contemplado a minha sorte,

Quando de tanga preta, caminhaste até

À casa de banho, para te refrescares de coragem,

Antes da minha fome lapouça, desabar sobre ti,

Fazendo-te explodir no meu maravilhado lambuzamento,

Naquela noite tinhas saído decidida a não dormir

Enxuta, às vezes quando gozo muito acontece, dizias,

Não me lembro sequer do teu nome,

Mas sempre que visto esta velha camisa,

Lembro-me da cicatriz na tua perfeita nádega esquerda

E pergunto-me, o que restará de ti nela.

 

Turku

 

01/05/2025

 

João Bosco da Silva

 


Aniversário à Beira do Rio

 

para quem bem sabe,

 

Amanhã lá estaremos de novo, à beira do rio,

O barulho do motor de rega a esconder-nos

Da luz do dia, o teu cabelo a enrolar

À medida que a humidade aumenta,

Os choupos a fazer uma sombra desnecessária

Num dia de céu de leite, de novo,

Desta vez, longe da cave escura, onde te refugiavas

E comias iogurtes, nas intermitências da loja

De roupa, do shopping onde trabalhavas,

E acabávamos com a caixinha de três,

Já não contava com mais e afinal, pedias-me,

Eu já seco, pedias-me que me corresse,

Eu ofegante, depois de ter galgado todas

As possibilidades abertas do teu corpo, me pedias,

Que me corresse na tua boca, e amanhã,

Lá estaremos uma vez mais, tão longe hoje,

À beira do rio, dizes que não te lembras da minha voz,

Eu não me lembro da textura dos teus lábios,

Culpo todos os aniversários que vieram sem ti,

O silêncio daquele motor de rega.

 

 

Turku

 

01/05/2025

 

João Bosco da Silva