Boca Cheia
Noites perdidas no sono inconsolável
De nostalgias inúteis como as folhas
Apodrecidas aos pés de nórdicos gigantes
Hibernados numa longa noite sem recreio,
Vira o disco e toca o mesmo cinzento
Denso que um dia inspirava liberdades
Mais abertas que ceder à verdadeira vontade,
As restrições de mão na porta
E outra na carne que se rouba por despeito
Numa oração de murmúrios viscosos
À perdição de uma alma que nunca
Nos foi verdadeiramente limpa,
Cair por fim despejado nas saudades
De um pó quase dourado de uma familiar
Encruzilhada rodeada de figueiras oliveiras videiras,
A esta distância o verão parece a impossibilidade
Da juventude e engolem-se remorsos
Como sonhos mãos vazias desejos inapagáveis.
Turku
02.12.2025
João Bosco da Silva
