Síndrome de Wernicke
Sigo-te depois das aulas, ou das obrigações do dia, ou lá o
que era,
Atravessámos um túnel como aqueles em miniatura que se
faziam na areia
Da praia, aparecemos do outro lado da montanha, havia
nevoeiro e eu seguia-te,
Na berma dois miúdos tocavam-se, tu deste-me a mão e eu
comecei a tocar-te
Também, sorriste, aceitaste, levaste-me até casa, à entrada
no portão dizes-me
Que o homem que regava as couves era teu pai cego, regava-as
nu,
Eu disse que se calhar era melhor não, ela disse anda e olá
ao pai,
A casa era como as casas típicas da minha terra, de pedra,
com uma escada para uma varanda
De entrada, debruçada na montanha, coberta de nevoeiro,
vinha e fetos,
Aquilo eram as minhas terras, a minha infância, deixo-te
entrar e fico
A respirar aquilo tudo, nunca haverá suficiente verde nos
olhos,
Quem te terá posto neste lugar, a ti e ao teu pai cego,
tenho tomado
As vitaminas b, não será disso, chamas-me e entro no ranger
de madeira do soalho,
Beijas-me e arrancas a roupa apressadamente, provo-te as
aréolas rosadas,
A tua pele pálida, deixas-me as calças que apertadas e
risinhos por ficarem
Presas nas ancas, lá se arrancam e tu a tremer, os teus
lábios da cor das aréolas,
Tu transparente como a tua vontade, ou um espelho da minha,
Tanta que não sei que te fazer, eu de calções no fundo dos
joelhos,
Mergulho em ti e levo-te aos lábios o teu sabor, procuro-me
e entro
Em ti quando vejo passar na janela o teu pai e mais dois
homens,
Continua ele não vê, e eu a pensar nos cheiros a gritar
naquela casa,
Não vem só e saio, encosto-me a um canto e vejo-te a ti, a
recebê-los, nua,
O teu pai não dá por nada, os outros parecem imitá-lo, é o
meu tio e o meu
Primo, e eu encolhido no canto, com as nádegas nuas
encostadas à parede fria,
Acabo de puxar os calções para cima, tu deitas-te num
colchão que estava encostado
Na parede enquanto eles falam, nua, de barriga, finges
dormir, e o teu primo
Curioso, deixa a conversa dos homens e começa a acariciar-te
as belas nádegas,
Como as primeiras nádegas, vejo que sorris de olhos
fechados, então ele
Penetra-te com um dedo, sinto o som de pregas húmidas no ar,
mordes o lábio inferior,
Abres os olhos e sorris-me, saio e engulo o nevoeiro na
varanda como se tivesse estado
Em longa apneia, desço as escadas para o vazio, e não, não
acordo.
07.10.2015
Turku
João Bosco da Silva
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