terça-feira, 29 de outubro de 2024




Regresso a Simi 



Entre mar e montanha

cúpula celeste

gloriosa tumba de ovelha.

 

É à sombra da torre do relógio

que se passam

as horas mais lentas.

 

O papá papou

o polvo

papou o papá.

 

Atrás dum barco de pesca

um homem sem calças –

amor ou merda?

 

Ao fim da tarde

eleva-se uma folha seca

ou uma borboleta?

 

Quem dormirá

naquele barco

também arruinado?

 

Quem terá tido a coragem

de limpar o cu

entre tanto cardo?

 

Nos dentes

da beleza

defecar.

 

Sobre o corpo submergido

timidamente

cai a chuva.

 

Não faltam templos

onde o verde

agora uma memória.

 

Montes acima

como nos desenhos

das crianças.

 

Lentos os dias

como os barcos

que chegam.

 

Ao ritmo dos barcos

passa o tempo

na ilha.

 

Perder a preocupação

de encontrar a linha

entre a terra e o céu.

 

A sombra da torre do relógio

jaz agora vazia –

folhas caídas.

 

Pequeno barco

quando tocaste

a última esponja?

 

Um afogamento

em pastel

e safira.

 

A lentidão seca

dos dias quentes

já uma memória.

 

A frescura do mar

agora sal

na pele quente.

 

No estômago o café

o sal do mar

e agora uma cerveja.

 

A amargura refrescante

dos últimos dias

na ilha.

 

Antes da Mamos aquecer

secar

noutra sombra.

 

 

Simi, Julho 2024

 

João Bosco da Silva

 

Rapidamente as crianças

levam o verão embora

em grandes mochilas.

 

Até adormecerem

balançam as folhas –

fim de Agosto.

 

Já sabe como dói

o cansaço –

orvalho nos olhos.

 

Seguindo o rasto da caneta

a bebé

pára de chorar.

 

Nos olhos da bebé

a dor do sono –

vento na rua.

 

Chegou o sono

no rosto da bebé

orvalho sagrado.

 

Agosto 2024

 

Turku

 

João Bosco da Silva