um minuto ao sol e o silêncio possível – haikus
Conseguisse ser eu
limpo e claro
como esta manhã de dezembro.
Sentado ao Sol
ouço os pássaros –
manhã de véspera.
Ao sol esvoaçam
os enfeites de Natal –
manhã gelada.
Como o campo geado
também eu
ao sol.
Só peço um minuto
em silêncio ao sol –
manhã de consoada.
Só peço um minuto ao sol
e o silêncio possível
desta terra.
Secou o carrasco
da minha infância –
um coto seco e recordações.
Nascido da fraga
só cresceu
até a infância acabar.
A sombra do pequeno pinheiro
cobre quase todo
o campo verdejante.
O sol de um lado
a geada já do outro –
crepúsculo de consoada.
Galos cantam gatos lutam
bebé chora –
Natal em branco.
Pudesse eu
simplesmente ser
um varredor de musgo.
Uma infância sem ruínas
é uma infância
arruinada.
Arrumados os bombos
as oliveiras agora
também descansam.
Varrer as agulhas
deste musgo –
fosse esse o propósito.
Torre de Dona Chama, Dezembro 2024