quarta-feira, 12 de novembro de 2025

 


Frutos do Mar e Cronenberg

 

Puxar do molar estilhaçado pela fúria da fome

Um mexilhão quase imperceptível de uma dor miudinha,

Um longo pé em forma de percebes, cuspir

Pedaços de lapa com ar de dente mal nascido,

Aos poucos tornámos-mos no convés submergido

De um barco que um dia chegou onde chegou,

Contudo, agradecemos os poemas fáceis,

Trazidos destes sonhos à David Cronenberg,

A maré baixa, acordamos numa confusão recém parida,

E de preocupações recentes, encontramos

A tentativa adormecida do velho convés se organizar,

Desfraldar as apodrecidas velas, para levar mais um dia

Ao poente precoce de um longo outono.

 

12.11.2025

 

Turku

 

João Bosco da Silva