Ponto de Situação
Perguntam-me se ainda escrevo
“Ou agora é só vinho”, escrevo, escrevo
Se calhar agora melhor do que nunca,
“Mas já não publicas livros”, é verdade,
Já não me publicam, ou é porque não há papel,
Ou não há estofo para as minhas idiossincrasias
E falta de paciência para o circo de pulgas amestradas,
Também os meus quase quarenta anos
Já não humedecem ninguém,
Não sou novo, nem novíssimo e nunca fui genial,
Escrever, bem ou mal, qualquer um escreve,
Fazer vinho, bom ou mau, é só para quem pode,
Ainda escrevo, a razão nunca se perdeu,
Mesmo que uma das razões primordiais
Se tenha divorciado e deixado de comer o que mexe,
Também eu agora não prego o dente a tudo, dou-me menos,
Vejo mais, melhor, o cansaço sempre me acompanha, escrevo,
Para quem escrevia antes de me meter em papel,
Que nunca ninguém leu, porque já tinha jantar marcado,
O resto, o resto é poupança de papel e outras contaminações.
25.11.2024
Turku
João Bosco da Silva