quinta-feira, 3 de abril de 2025


 

Romã

 

Não há ciência nenhuma, em comer uma romã,

Talvez paciência, um pouco de sacrifício,

Quando cuidadosamente, se remove a película

E grão a grão, para um pequeno prato,

Meu amor, para tu comeres, como fazia a minha mãe,

A vida deve ser vivida assim, não te concentres

No amargo, saboreia cada pequeno grão rubi,

Cada momento precioso e dá o melhor de ti

Aos que amas e te amam, sabes meu amor,

A romã, é também, a minha fruta favorita.

 

03/04/2025

 

Turku

 

João Bosco da Silva

 


Autocarro para o Hipocampo

 

Aquelas três mulheres de calças brancas,

À espera do autocarro de regresso,

Depois de tardes de intensa transpiração

Num pequeno quarto alugado,

Naquele início de verão,

Nunca foram verdadeiramente três,

Foram quatro, cinco, nem todas calças brancas,

Uma nem de autocarro vinha,

Muitas vezes a esperei na estação de São Bento

E lá íamos até Gaia ver as cores crepusculares

Na da Ribeira, contudo, tornaram-se numa ideia,

As três mulheres de calças brancas,

Sem um aspecto definido, nítido,

Como tudo o que é sonho ou memória,

Sem uma origem específica,

É como se a essência do meu desejo

Se tivesse cristalizado naquela imagem,

Três mulheres à espera no hipocampo.

 

01/04/2025

 

Turku

 

João Bosco da Silva