ele veio até ao alpendre
com um tipo anormal sorridente
e lá ficaram
bêbados de vinho.
o pintor tinha algo embrulhado no seu casaco,
então tirou o casaco –
era um capacete de polícia
completo com distintivo.
“dá-me 20 dólares por isto,” diz ele.
“desaparece, meu,” disse eu, “para que quero eu um
capacete de polícia?”
“dez dólares,” disse ele.
“mataste-o?”
“5 dólares . . .”
“que fizeste àqueles 6 mil que ganhaste
na tua exposição o mês passado?”
“bebi-os. tudo no mesmo bar.”
“e eu nunca bebo uma cerveja,” disse eu.
“2 dólares . . .”
“mataste-o?”
“encurralámo-lo, socámo-lo um pouco . . .”
“isso é treta. não quero o capacete.”
“faltam-nos 18 centavos para a garrafa, meu . . .”
dei ao pintor 35 centavos
mantendo a corrente na porta, entregando-lhos
com os dedos. ele vivia com a mãe,
batia regularmente na namorada
e na verdade não pintava assim tão
bem. mas suponho que muitos dos personagens obnóxios
trabalham o seu caminho até à
imortalidade.
eu próprio estou a trabalhar nisso.
Charles Bukowski, in Mockingbird Wish Me Luck (Blacksparrowpress, 1972)
Tradução: João Bosco da Silva
Tradução: João Bosco da Silva
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