Nojo E Vergonha Na Primeira Classe
Uma vez na primeira classe, saímos mais cedo, já a aldeia
estava toda acordada,
O nevoeiro tinha levantado, aquilo parecia-me um crime, pela
rua, aquelas horas,
Eu e o Zé Pequeno, perto da mercearia onde a mãe uma vez
comprou cereais
Muito bons mas caros, de chocolate, com um urso na caixa,
uma rapariga grande
De uns doze já, ou quinze, mais do dobro da nossa idade de
certeza, chamou o Zé,
Tinha um bolo na mão, cravou-lhe uma dentada e deu ao Zé o
resto, ele aceitou
Todo contente e ofereceu-me, eu recusei repugnado e ele
atacou o bolo,
Provavelmente a primeira coisa que comia em todo o dia,
senti vergonha por ele,
Nojo do bolo e ódio pela rapariga, aquilo pareceu-me uma
afronta, aquela dentada
Antes da esmola, como cuspir na comida antes de a dar a quem
tem fome,
Como afastar as nádegas de uma pobre para pagar a ilusão do
favor que se lhe fez,
Como dar um tiro num cão vadio, porque coitadinho, não tem
quem tome conta dele,
Só mais tarde perdi nojo ao que as raparigas grandes tocavam
com a boca e davam como esmola.
13.10.2015
Turku
a escrever cada vez melhor.
ResponderEliminarboa !