Caretos
A máscara a abrir a porta para a liberdade,
Grotesca, a pôr um véu no humano coberto de franjas,
Que já não o é, porque é mais: É sagrado porque é pagão.
É o fim de um ser e o início de outro.
É a porta entre dois mundos.
É o que vem e o que foi, neste que é.
Um nu colorido e barulhento a chocalhar pelas ruas
Da terra atrás das raparigas férteis e disponíveis.
É a festa da renovação, uma oração à natureza,
Um pedido à terra para que traga um ano bom.
As chamas levam o passado,
Por que tudo o que já não, é inútil, não faz crescer,
Há que purificar a terra para o devir.
O Inverno não dura sempre, mesmo que volte,
Cá estaremos para o ano.
Um presente eterno, mesmo que longe do início,
Mesmo que os avós mortos e os filhos por nascer,
Também eles foram, também eles serão.
Hoje nós o presente, a eternidade mascarada,
Protegidos do mundo dos outros dias,
Donos da porta que é o tempo.
Amanhã os facanitos a olhar-nos por detrás da máscara,
E nós à espera que nos abram a porta,
Mas hoje nós o que eles querem ser um dia,
Os que têm as chaves todas a chocalhar.
Hoje somos os arautos da natureza,
Da vida que ela dá e tira.
O animal preso durante todo o ano,
Finalmente livre, como um diabo aos saltos,
Com licença sem pedido concedida, porque hoje é o dia eterno.
Hoje duas caras. Hoje as chaves para todas as portas.
Hoje dia da liberdade mais pura.
Com uma paz violenta a fazer mal sem maltratar,
Ninguém pode levar a mal aos deuses por um dia.
Venha o barulho e a confusão,
O caos de uma rajada de vento a levantar as saias,
Ou uma vara se ele faltar,
Porque hoje somos nós que abrimos a porta.
Venha a geada e o frio a despedir o ano,
Que nós de um mundo entre mundos,
De um tempo entre tempos.
Donos e senhores de todas as chaves do universo,
Do universo comum, da ruralidade de onde a humanidade nasceu,
Fiel e transcendente, com origem na origem,
Nas fornalhas do tempo, quando o homem nu,
Com franjas e uma máscara de madeira ou couro,
Atrás das portas para abrir o futuro à humanidade.
Hoje os males dos homens e dos deuses longe,
Protegidos por uma mística imunidade,
Com uma misteriosa força que faz as pernas saltar,
A garganta gritar, livremente, pelas ruas da terra fora,
Atrás do que se gosta mais:
Raparigas solteiras.
Hoje fazemos a regra: haja liberdade!
14.03.2010
Savonlinna
João Bosco da Silva
A máscara a abrir a porta para a liberdade,
Grotesca, a pôr um véu no humano coberto de franjas,
Que já não o é, porque é mais: É sagrado porque é pagão.
É o fim de um ser e o início de outro.
É a porta entre dois mundos.
É o que vem e o que foi, neste que é.
Um nu colorido e barulhento a chocalhar pelas ruas
Da terra atrás das raparigas férteis e disponíveis.
É a festa da renovação, uma oração à natureza,
Um pedido à terra para que traga um ano bom.
As chamas levam o passado,
Por que tudo o que já não, é inútil, não faz crescer,
Há que purificar a terra para o devir.
O Inverno não dura sempre, mesmo que volte,
Cá estaremos para o ano.
Um presente eterno, mesmo que longe do início,
Mesmo que os avós mortos e os filhos por nascer,
Também eles foram, também eles serão.
Hoje nós o presente, a eternidade mascarada,
Protegidos do mundo dos outros dias,
Donos da porta que é o tempo.
Amanhã os facanitos a olhar-nos por detrás da máscara,
E nós à espera que nos abram a porta,
Mas hoje nós o que eles querem ser um dia,
Os que têm as chaves todas a chocalhar.
Hoje somos os arautos da natureza,
Da vida que ela dá e tira.
O animal preso durante todo o ano,
Finalmente livre, como um diabo aos saltos,
Com licença sem pedido concedida, porque hoje é o dia eterno.
Hoje duas caras. Hoje as chaves para todas as portas.
Hoje dia da liberdade mais pura.
Com uma paz violenta a fazer mal sem maltratar,
Ninguém pode levar a mal aos deuses por um dia.
Venha o barulho e a confusão,
O caos de uma rajada de vento a levantar as saias,
Ou uma vara se ele faltar,
Porque hoje somos nós que abrimos a porta.
Venha a geada e o frio a despedir o ano,
Que nós de um mundo entre mundos,
De um tempo entre tempos.
Donos e senhores de todas as chaves do universo,
Do universo comum, da ruralidade de onde a humanidade nasceu,
Fiel e transcendente, com origem na origem,
Nas fornalhas do tempo, quando o homem nu,
Com franjas e uma máscara de madeira ou couro,
Atrás das portas para abrir o futuro à humanidade.
Hoje os males dos homens e dos deuses longe,
Protegidos por uma mística imunidade,
Com uma misteriosa força que faz as pernas saltar,
A garganta gritar, livremente, pelas ruas da terra fora,
Atrás do que se gosta mais:
Raparigas solteiras.
Hoje fazemos a regra: haja liberdade!
14.03.2010
Savonlinna
João Bosco da Silva
eu não gosto de caretos... mas o poema transmite mto bem toda a tradição!
ResponderEliminarIsto é sobre o Carnaval?
ResponderEliminaré um texto estranho, mas fundo ... gostei :D
lol! por acaso ha regioes transmontanas em k algumas pessoas s vestem de caretos no Carnaval, mas n só... ha outras festas... por ex, na nossa terra há a "burricada" na noite de Natal, od andam alguns caretos... é um traje tipico, por assim dizer!... mto colorido e retalhado, com mascaras horrendas e latas penduradas à cintura "a chocalhar" xD eu n gosto, assustam.me!
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