terça-feira, 21 de junho de 2011




À Psiquiatra Loira



A psiquiatra, se não fosse dos que querem o mundo impossivelmente seguro,

Medicando loucos, loucos medicando loucos e a loira a desejar uma loucura

Com a minha cara selvagem a ser chuva quente e afiada na dela,

Até lhe arriscava os lábios, assim só os certeiros que nem todas merecem a paciência de um beijo.

Algo me diz que Alberto Caeiro era um doente de Alzheimer e esquecer tem uma

Certa tristeza bela e libertadora, uma novidade que a memória tantas vezes insiste

Em chamar “outra vez”, como se a vida não fosse momentos, mas um momento

Aborrecidamente longo e repetitivo, com déjà vu atrás de déjà vu

(Tão curto quando o fim nos aperta com o que nos resta para existir contra a eternidade).

Espero nunca cair no ridículo de perguntar a quem me estiver a morrer (um dia talvez alguém):

Ainda me amas – que interessa saber se luz, quando o interruptor já vai longe a abrir

O circuito para a escuridão. Desculpa-me, desculpa-me por te perdoar, porque eu nunca

Me perdoarei as vezes em que disse não, que engoli a felicidade como se algo prescrito por uma

Psiquiatra loira, com perguntas às quais ela sabe a resposta, só para meter conversa

Dentro da “sanidade” permitida e esperada de um louco que medica loucos e só a morte é justa

Porque tem um mesmo saco para todos: o último fim é sempre o início da eternidade.



21.06.2011



Turku



João Bosco da Silva

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