Senhora Professora Eu Confesso
Numa esplanada na companhia de uma checa, loira, de Bukowski no colo e o perfume
De há dois verões que passa à minha frente como um fantasma, com o Bukowski
Numa esplanada, invariavelmente o Bukowski no fim de mais um dos seus livros de poesia
(Crónicas curtas) e não há melhor arte que a verdade, melhor poema que uma confissão:
Lembro-me de ti, daquela noite sem esperança, na terra pequena cheia de sonhos demasiado
Possíveis quando te conheci, chovia e eu seco, chovia e tu não te calavas e eu já adivinhava
Que me ias espremer o leite, difícil depois de tanta cerveja, tanto whiskey e resignação
Ao Inverno inevitável, a primeira noite adiada e lembro-me da última em que mais do que
Entrar dentro de ti, perdi-me entre os aromas do nosso corpo, esqueci-me do sabor
Do meu suor e decorei a sinfonia da tua excitação quase em forma de chuva,
Outros bebiam as cervejas já quentes na sala, querendo acreditar que nós perdidos
Nos corredores quando eu perdido em números invertidos, a minha língua a manter o ritmo
Do teu clítoris e depois de muitas páginas não me conseguirei vir, mas cheguei e no dia seguinte
(Dali a umas horas) o baptizado da filha de um dos meus melhores amigos (dos que dão passos
Reais na vida) e à noite o beijo já sem sabor da adolescente, mas eu já incapaz de amores
E outras tretas, ainda com o sabor da tua excitação morena nos meus lábios, já no meu estado
Anormal (tido como normal por quem me conhece “realmente”), a tentar jogar dardos
Com um pescador, um polícia reformado e o pai da criança baptizada, fazer o que sei melhor,
Perder, mesmo entrando, mesmo espetando, ferindo e tendo deixado marca,
Tu sentada a querer mais, eu a sentir que tu a querer mais, mas eu tão pouco e tudo o que dou nunca suficiente, mesmo que todo.
Acredites ou não, pararam duas Lindqvist, irmãs com cabelo de cobre e olhos absorventes de pilas
Na boca e eu sei disso porque uma fez de mim Cristo no deserto a evitar milagres, iam jantar,
Ficaram de pé à espera de um convite e eu limitei-me a matar a conversa, lentamente, dando
Mais atenção à cerveja que a elas, até a sua fome se tornar mais dolorosa no estômago
Que nos outros vazios, até se irem e me deixarem acabar este poema tão desnecessário
Como tantos outros poemas, lidos e relidos, até à exaustão e a morte algo tão pequeno
Quando lá fora, um medo, uma possibilidade, como aquela noite em que te conheci
Senhora Professora e não penses que não me lembro de ti.
30.06.2011
Turku
João Bosco da Silva
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