quinta-feira, 7 de julho de 2011


Regurgitações II



Ter os olhos abertos num dia em que o Sol nem descansou, em que cada segundo é um orgasmo

Primordial e inocente entre as muralhas erguidas pelos deuses asgardianos mais reais do que os

Crucificados, porque nunca nasceram, nunca morreram e apesar de terem perdido a fé

Dos seus seguidores, não foram esquecidos. Se aqui for o céu dos católicos tornar-me-ei crente,

Se não (ainda estou vivo, apesar de tudo demasiado belo) continuarei ateu, mas contente e só terei

Pena por a morte me tirar todas as imagens que tentei tornar eternas dentro de um corpo insignificante

Que criou isto tudo em miniatura enquanto lia Trold num quarto pequeno na baixa do Porto,

Porque é impossível imaginar o tamanho real das montanhas mitológicas encerrado entre ruas escuras.

Aves cujos nomes desconheço cantam-me sinfonias que os olhos ouvem com imagens, ao longe

A neve eterna salpicada nas rochas forjadas nas lutas entre titãs, o meu coração também

E uma criança grita palavras que já não consigo traduzir, mas compreendo, lá no fundo

Onde me moram os sonhos, um jovem corvo, enviado por Loki, olha-me com uma profundidade

Negra e segue caminho lentamente, à esquerda Onsogssenter, lê-se na placa e quem sabe noutra vida,

Tromsø finalmente ao alcance real dos olhos e alguém me chama para jantar, baleia,

E o sabor faz-me lembrar os javalis do meu avô, enquanto o Sol ainda alto, luminoso

E maior acima das montanhas da minha segurança infantil. A vida vale a pena e até três

Pequenas ovelhas me parecem dizer mais verdades com o seu olhar curioso do que mil

Poemas escritos à beira de um abismo interior, na segurança de um regresso perdido à casa que nunca mais.



04.07.2011


Hatteng (Noruega)


João Bosco da Silva

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