Génesis Ou Na Terra Do Início Dos Tempos
para o Bruno Costa,
Senta-se a solidão arrastada ao balcão e a sombra leva-a na proximidade de um sorriso,
E o que vai ser amigo, uma daquelas, que lavam o esquecimento dos sonhos desistentes,
Tornados em quase memórias na cinza da lareira apagada pelas madrugadas frias
Só para que o desespero se sinta na medida dos dedos que o futuro tornou inúteis
E pequenos quando veio, sou o presente, chegaste e nunca te moveste verdadeiramente,
Ri-se o tempo, lá fora, enquanto passa, mais um cabelo branco, um dente que começa a doer,
A filha que afinal herdou a inocência perdida da mãe e o sonho de Sol e sinceridade
No escuro de uma cidade velha a ser levado pelo rio do desejo mórbido do destino
De barba ridícula, perseguem as recordações falhadas dos três dias a tornar a pele
Vermelha, os olhos em chamas, mais uma daquelas ó patrão, esta leva o que as mãos
Perderam da dor que insiste, esta traz a ilusão de mais uma noite fabulosa, e mais uma
Menos uma, algo virá, algo virá, nem que se rasgue a noite até as padarias abrirem, na cidade
Onde se nasceu e os dedos satisfeitos do vício que é a carne de dezanove anos,
Mas desta vez não se troca a paixão pelo cansaço, vai além dos limites que te esperam,
Ao fim da tarde já um cigarro te irá acordar, a voz regressará e será tua, mais um café,
Um sorriso, que os sonhos são eternos na espera constante pela sua verdade, a sua verdade
Que vive antes de serem, como todos os que não nasceram e foi uma pena,
Podiam ter sido um amigo, um brinde, um beijo quase dentes a tornar a própria pele
Numa dor adiada, na solidão que virá, a que leva o canto do café da terra.
30.09.2011
Porto
João Bosco da Silva
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