terça-feira, 12 de junho de 2012


Passou Por Mim E Nada

Ela olha-me da janela do autocarro, finjo não perceber e esqueço o relato dos calções
Curtos que passam e do dia internacional das calças justas, por um inglês e um holandês,
Dou o último gole na cerveja já quente, ela olha, percebe o meu fingimento,
Nunca quando estou a ser sincero, o inglês tomba um vaso de flores da esplanada
E já não dá conta do recado, já ninguém sabe como são dezasseis anos, ela desvia o olhar
E quando o autocarro arranca, ela volta a cabeça para o último ângulo onde eu possível
E lança-me um olhar de podia ter sido, outra coisa, mas é isto, nunca mais, por isso
Vou buscar mais uma cerveja, ainda é cedo e o inglês só ainda agora começou
A fazer merda, escrevo este poema, porque desta vez ficou tudo num olhar,
Não houve lareiras a crepitar gemidos, nem unhas a rasgar versos num papel
Qualquer em cima dos joelhos, limpam-se da barriga os filhos e janela fora que o luar espera,
Venha a noite que todos os autocarros trazem com a sua partida, os vinte anos
A atravessar multidões e braguilhas, fascinadas por abismos e chamas eternas.

08.06.2012

Turku

João Bosco da Silva

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