quarta-feira, 5 de setembro de 2012


À Beira Da Praia

Se a areia da praia fosse os teus cabelos colados na minha barba, espalhados no meu corpo
Pela brisa de uma noite quente de lua cheia, gostava de praia, assim prefiro o pó de feno iluminado
Por um feixe de luz que se escapa desde um buraco no telhado de um palheiro, o doce incómodo
Da palha contra as costas nuas e olhando o mar sei tanto do destino quanto do destino te consigo explicar,
A sua impossibilidade de ondas e mais ondas que chegam à praia e só espuma, tudo por fazer, tudo impossível
Antes do primeiro passo dado e o primeiro o último na direção da impossibilidade.
Beijo-te como se tentasse encher os pulmões de ti, os meus lábios a hiperventilar para mergulhar
Nas trevas da tua ausência, abraço-te mas quero que me sejas, quero que a tua pele a minha
E que o momento seja todas as eternidades, o teu cheiro torna as estrelas mais próximas e deixo
De lhe invejar o brilho nas trevas, porque contigo ao meu lado a noite torna-se pálida, a morte
Perde a força do medo, porque, porque, até a vida sem ti medo e vazio, do que a eternidade não alivia.
Encosta o teu corpo de lavanda e trigo à minha carcaça de poeta triste, adormece e acorda-me o sorriso
Que a criança que fui um dia esqueceu, dorme comigo e faz a minha morte valer o seu nome,
Enquanto o mar continuar a chorar-se em espuma na areia que não é o teu cabelo na minha barba.

Praia da Barra / Aveiro

23.08.2012

João Bosco da Silva

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