Enquanto Se
Espera Por Menos
Acordar
durante a noite com a vontade de morder toda aquela carne que se deixou
Entre um e o
outro lado de uma ponte invisível, as gotas de suor incomodam a presença da
Almofada e o
desespero não deixa dormir ninguém com o ranger dos dentes metálicos,
O mundo
perde-se a cada promessa, o mundo cresce a cada segundo que se perde
E tudo cada
vez mais longe, todos cada vez mais mortos, as pálpebras cada vez menos
Vermelhas nas
tardes quentes de Verão quando fechadas de prazer, as pálpebras
Cada vez
mais de madeira, nuvens numa noite de luar, a Lua amarela como os dentes
Daquele cão
bêbado que leva as almas que conseguiu enganar através do corpo,
O mundo lá
fora arde e acorda-se com a boca cheia de vazio, cospe-se como se terra,
Mas quando
terra for, nada a fazer, arrancar as unhas se der tempo, ou cruzar as mãos
sobre
O peito e
fingir que se dorme à espera que a carne deixe de ser necessária para tudo o
resto ser,
Uma valente
treta aquele ponteiro dos segundos, passos num corredor entre um nada e outro
nada,
Ou a ponte
onde se deixou toda aquela carne, só ficou a vontade nos dentes, o desespero
Que torna as
mãos em raízes fantasmagóricas, que agarram como quem rasga quando
Sentem que
estão a perder o controlo, que afinal só a ilusão do controlo, nem o ar da
almofada
Se suporta,
nem a chuva suspensa à espera da consciência de vidro de uma janela acordada,
Um candeeiro
em cima de uma mesa onde algum alquimista tenta transformar palavras em carne,
Morre de
fome e insónia, acreditando que as palavras capazes de milagres, mas Verão
É uma
palavra tão fria como o que não se vê agora, tem o mesmo peso de deus, e
enquanto
As folhas
amarelecem, não passa de uma vibração nas fibras de um coração frio e faminto.
24.09.2012
Turku
João Bosco
da Silva
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