De Um Brinde Poético À Distância De Um Abraço
A distância asfixia-nos, mas não aquela que traz horizontes
escurecidos pelos anos,
A distância dos horizontes verdes, dos verdes anos, ou
simplesmente do tempo
Que apenas embebedava em vez de afogar, esmagar, semear o
prateado indesejável
E as curvas que toda a gente quer ocultar, bebe-se demasiado
mas nunca se bebe
Quanto a sede merece, tantas lágrimas engolidas no durar em
que o viver se torna,
Entre goles com vontade e aqueles que têm que se engolir,
entre uma gota de mel
E mais uma descarga biliar, o verde amargo da esperança que
corrói os intestinos da alma,
Ao ponto de não se poder absorver mais os dias de Sol, com
os mesmo braços abertos
De antes, o sorriso é um reflexo para responder socialmente
ao que se espera,
Lê-se tanto, porque se tem tanto para dizer, mas o medo de
se acertar na cadência do coração
Impede a língua o que os dedos consentem na solidão, entre a
primeira e a última cerveja,
Gostava de conseguir espremer o limão, fazer sumo,
simplesmente, e refrescar a alma,
Mas sempre que me dão limões, faço gasolina com eles e
incendeio as páginas em branco,
Engulo o ácido destilado à sombra da solidão e da noite e vomito
tudo em forma de salvação,
Uma mapa da perdição onde me encontro, onde por vezes me
parece que também tu estás,
Poeta, não o meu espelho grotesco à moda do retrato de
Dorian Gray, mas tu, simples e
Inocente, até mesmo no amor ébrio dos sofás da madrugada, purificado,
água de um glaciar
Que agoniza com graça, ensina-me a ser menos poluído, a
engolir o tempo com calma,
A beber menos o que me encurta o tédio e me alonga os
versos, tu sabes, a ser menos eu,
Mas é esta distância que nos aproxima, porque também o
espaço é relativo, e muitas vezes
Vamos contra as suas leis, já que estamos tantas vezes no
mesmo ponto sem a confirmação do olhar,
Ou do estilo, ambos no mesmo ritmo que nos leva e lava, bebemos
como vivemos.
06-10-2013
Coimbra
João Bosco da Silva
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