“Mr Mojo Risin”
Procuras entre quatro paredes saturadas pela tua presença,
uma companhia,
O espectro de uma garrafa de vinho que um dia enterraste na
areia e bebeste na companhia
Do pôr-do-sol, tentas lembrar-te de quem eras na noite em
que bebeste uma garrafa
De sake e escreveste um poema sobre uma tatuagem num ombro
ao som dos The Doors,
Procuras-te menos nesse quarto fechado, onde estás,
procuras-te dentro, onde não estás,
Reflexos que nunca encontras no espelho em que realmente te
espelhas, procuras
O reflexo no hipocampo, nunca acreditaste na companhia que
te fazes, preferiste sempre
A companhia imediata da bebedeira e das casas de banho em
bares quase vazios,
Procuras porque tens as mãos cheias e os braços cansados do
peso dos dias, sempre
Os mesmos, para cima, para baixo, para cima, para baixo, uma
masturbação por necessidade,
Um desespero de verter como quem faz uma sangria na alma e
fica melhor, porque menos,
Na palidez encontras-te mais facilmente com a eternidade,
procuras-te nos ecos daqueles
Gemidos que nem do teu nome capazes, mas que interessa, se
tu tão certo da presença da tua
Carne, nada te dá mais certeza que a dor, procura-la sempre
que sentes a invisibilidade
Tomar conta de ti, gritas com vontade, sopras contra o
castelo de cartas só para que se voltem
Para a demolição da beleza que com tanta paciência
construíste, procuras a companhia
Do granito a rasgar os teus punhos enquanto rezas e vertes o
teu corpo líquido na pedra
Quente entre as pernas de uma capital, a tua curiosidade
sempre foi passiva, para satisfazer
A dos outros, e tu inocente sempre, em todas as fodas
anónimas, em todas as traições
Sorridentes e sinceras, na aceitação da fruta, sempre
engoliste até ao fim, cego, fascinado
Pelo fascínio que fingem ter pela tua alma apagada e
cinzenta, procuras uma confissão,
Mas não consegues falar de outra forma que não esta,
confessas-te por isso aos copos vazios
E aos sonhos nas noites de insónias e de transpiração por
abstinência de excessos.
25-01-2014
Coimbra
João Bosco da Silva
Publicado na antologia "Voo Rasante", Mariposa Azual
Excerto lido por Sara F. Costa: https://soundcloud.com/sara-f-costa/joao-bosco-da-silva-quente-entre-as-pernas-de-uma-capital
Publicado na antologia "Voo Rasante", Mariposa Azual
Excerto lido por Sara F. Costa: https://soundcloud.com/sara-f-costa/joao-bosco-da-silva-quente-entre-as-pernas-de-uma-capital
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