O Estado Do Tempo
Tenho os sentidos à beira da catástrofe, vivo num último
gole constante,
Cada sirene que se apaga na urgência distante é uma morte
anunciada
Ao lado da almofada, como podem os dentes apertar tanto numa
fome silenciosa
De sonho, acorda-se todos os dias em cima de uma ponte mais
pronto para o salto
Que para a travessia, e o Sol acende isto tudo com a sua
miopia benevolente de deus,
A água passa mas o rio cada vez mais turvo e cada vez menos
cães nas ruas da noite,
Cada vez mais o latir dos ossos encalhados nas pedras
romanas,
A estas horas só a inutilidade de um verso pode salvar, a
vontade não basta
E os sorrisos têm sido tantas vezes falsificados que se
desconfia com os dentes todos,
Tenho os sentidos à beira da catástrofe enquanto as crianças
brincam na rua
E também elas um fim anunciado muito antes da decadência dos
seus brinquedos favoritos.
20-06-2016
Turku
João Bosco da Silva
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