Finlândria
Foi num verão de outra vida, a jovem finlandesa sentada ao lado do meu avô,
Ele a perguntar-lhe de onde era pela quarta vez, Finlândria,
As mãos nodosas apertavam aquelas pernas brancas, tem boas canetas,
Hoje ambos apenas na memória, aquele gesto quase inocente,
O sorriso tímido de quem não percebe a língua que falam,
Tudo tinha já um fim marcado, continuo na Finlândia, vivo uma terceira vida,
Cada vez mais estranho às recordações, visitam-me inesperadas
Como sonhos de um fantasma, depois de dez anos, tudo parece
Uma confabulação, aquelas lágrimas nunca foram minhas,
Até este nome comum parece ter perdido o significado,
Aos poucos só restará o olhar e o vazio.
Turku
21.05.2020
João Bosco da Silva
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