No Muro do meu Descontentamento
No muro do meu descontentamento, a vida sempre me soube a pó
fino,
Para tamanho abismo no tecto do quarto à noite, onde o mofo
proliferava
Nas paredes como o inverso dos sonhos, que aos poucos,
Se diluíram nos anos e com o verdadeiro alcance das mãos,
Mais à frente na encruzilhada, que leva à esquerda ao monte
e à direita ao rio,
Entrei nelas, iluminado pela companhia dos pirilampos e
estrelas de verão,
Um pouco mais de mim noutro vazio, cada gesto menos eu,
Contrariado quase, inspiro fundo, tentando resgatar a música
que os grilos
Ressoavam no cristal quente da noite àquelas horas depois da
inocência,
No muro do meu descontentamento, enquanto o cavalo do
coveiro pastava
Nas minhas costas o silêncio da minha insatisfação
congénita.
Turku
12.07.2020
João Bosco da Silva
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