Emigrante
Que fazes aqui ainda, neste hotel da capital, com a pele
ainda morena
Do sol que te conhece, que bebes com uma sede de anos,
Essa pele que treme e estranha, estranha sempre, este súbito
fim
De Verão nórdico, que nem sempre se concretiza, que fazes
ainda,
Regressando como se fosse uma obrigação, a um país ao que
deste
A juventude e nunca será teu, onde diluíste a alma até te
esqueceres
O que significam as raízes que um dia te apertavam o peito
Até uma seiva chamada melancolia ou saudade te esmagar com
doçura,
Regressas sem a graça da juventude, no hotel nenhuma
recepcionista
Te acompanhará e adormecerá no teu quarto, ao teu lado,
vazio,
Onde a escuridão não é absoluta por causa da luz do ar
condicionado,
De manhã deixarás umas chaves anónimas na recepção,
Ninguém te abraçará numa despedida definitiva de quem se deu
Completamente numa noite, partirás de regresso ao limbo onde
pertences,
Levando os dias que te levaram a juventude, à morte e ontem
Já foi demasiado tarde quando partir e regressar a casa se
tornou
Na mesma coisa, jamais pertencerás a um lugar a não ser ao
caminho.
Helsínquia
04.09.2021
João Bosco da Silva
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