Novembro
Volta o mundo a encerrar-se numa apneia escura,
Numa nudez de ossos e ramos fantasmagóricos
Erguidos ao mercúrio frio do céu demasiado baixo,
Voltam a ser poucos os prazeres que façam o dia valer
O gasto da vida, um café quente que não se deixou queimar,
Acordar sem a necessidade de um despertador,
O silêncio na casa para te receber de braços abertos,
Espaço para respirar e suspirar em segredo,
Sacudir dos cantos do bigode o que ficou dos sonhos,
Pouco se levará daqui, a não ser que se inventem
Novos pecados, transgressões ainda permitidas
A cadáveres ressequidos pelo cansaço e pela derrota,
Volta a luz a ser rara, o cérebro mirra, como as folhas
Da figueira, a poucos dias de Novembro, nada interessa
Agora, a primavera impossível também há-de chegar.
28.10.2021
Turku
João Bosco da Silva
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