Louça Suja
A escultura grotesca que é a louça suja amontoada
Lembra-me a vida, que me custa enfrentar ao acordar,
Adia-se a obrigação, cancela-se mais um encontro,
Menos um copo sujo, há vida naquele monte,
Uma construção que a ordem e o detergente farão desaparecer,
Contudo olhar para aquilo pesa nos olhos,
Pesa na consciência quando lhe viro as costas
E me debruço no acto inútil de escrever um poema
Sobre louça suja e vida, há sempre a possibilidade
De um copo cair ao chão, um prato se partir,
É o risco que se corre quando se acrescenta
Mais um verso, respira-se melhor na aridez metálica
De um lava-louça deserto, por isso terei que terminar
Este fazer para dentro, pegar no esfregão e viver.
Turku
11.11.2021
João Bosco da Silva
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