Borralho
Era fácil, engolia-se a escuridão e o vazio dos dias,
Olhavam-se as paredes com força suficiente para lhes
destilar
Da humidade outros significados, acreditava-se ainda
Que era possível sair-se do tempo enquanto se batia um
verso,
Tornava-se a realidade palpável, mesmo que apenas no
passado,
Traziam-se os dias quentes de volta, o cheiro a cona aos
dedos,
Enquanto na cama ressonava o cansaço dos lábios nos outros,
A poesia fazia sentido, os dedos deixavam-se levar por um
tremor
Embalado por uma harmonia quase divina, era fácil,
Bastava um copo cheio da fase que fosse, no fim o resultado
O mesmo, mas ao menos um alívio arrancado da melancolia
Eterna do cair de uma folha, na sua leveza a felicidade
oxidada,
Agora isto, não esperar nada das palavras, atirar versos
De barro à parede a ver se a luz se acende e a noite longa
Como um inverno sem vinho, morre-se tantas vezes
E todas as palavras deste mundo, não tocam sequer a eternidade.
Turku
08.10.2022
João Bosco da Silva
Sem comentários:
Enviar um comentário