Arrefecimento
“habituámos-nos a que
nos esqueçam”
Yannis Ritsos
Quando a fome te despe os sentidos e suavemente
As primeiras geadas te visitam a solidão,
É porque chegou o tempo das fogueiras e dos segredos pagãos,
Despertam lentamente os sonhos antigos,
Como quem acorda com a boca pintada pelo vinho
Que um avô morto pisou, friamente cintilam as estrelas
Como o mais belo copo de cristal vazio,
Numa manhã de sede maior, em que o despertador,
A faca do coveiro que abre caminho ao sangue,
Do coração do porco cevado à bacia de plástico,
Chega o inverno que nunca esqueceste e o verão,
Que ainda ressoa na pele, mora agora num canto esquecido
Na companhia dos mitos da infância e dos amores frios.
Turku
15/11-04/12/2022
João Bosco da Silva
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