No Time para o Caralho
Até parece mal estar a queixar-me disto, sete dias seguidos
De trabalho, quase setenta horas, obcecado com a guerra,
Ver aos poucos a força de um povo ser esmagado
Pela vontade cega de um gigante louco, acordar e esperar
Que o exército invasor tenha o maior número de baixas
possível,
Eu sei que são adolescentes, a maioria, carne para canhão,
Mas não consigo simpatizar com quem não tem objeção de
consciência,
Depois é uma universidade que foi demolida e uma centena de
famílias,
Depois é um comboio de 60 quilómetros há dois, três dias,
É o anúncio do apocalipse, a inflação, e eu despejo uma de
tinto,
Começo a pensar, comprar dólares ou ouro, o que levar quando
chegar aqui,
Pouco ou nada, do que vale, para onde se foge quando nada
resta,
Então a bela ideia de fugir da realidade, o último filme do
James Bond,
Aquele gajo imortal, superdotado em sorte e charme,
Grande erro, este século não é para heróis nem underdogs,
Até o caralho do 007 não pode fazer nada contra os mísseis
E é vaporizado numa ilha, para salvar a filha, e o mundo vá,
Se já nem nos podemos refugiar na ficção, esperemos então
A iluminação antes da escuridão eterna do pó e do anonimato
que nos cobrirá.
Turku
03.02.2022
João Bosco da Silva
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