Regresso a Simi
Entre mar e montanha
cúpula celeste
gloriosa tumba de ovelha.
É à sombra da torre do relógio
que se passam
as horas mais lentas.
O papá papou
o polvo
papou o papá.
Atrás dum barco de pesca
um homem sem calças –
amor ou merda?
Ao fim da tarde
eleva-se uma folha seca
ou uma borboleta?
Quem dormirá
naquele barco
também arruinado?
Quem terá tido a coragem
de limpar o cu
entre tanto cardo?
Nos dentes
da beleza
defecar.
Sobre o corpo submergido
timidamente
cai a chuva.
Não faltam templos
onde o verde
agora uma memória.
Montes acima
como nos desenhos
das crianças.
Lentos os dias
como os barcos
que chegam.
Ao ritmo dos barcos
passa o tempo
na ilha.
Perder a preocupação
de encontrar a linha
entre a terra e o céu.
A sombra da torre do relógio
jaz agora vazia –
folhas caídas.
Pequeno barco
quando tocaste
a última esponja?
Um afogamento
em pastel
e safira.
A lentidão seca
dos dias quentes
já uma memória.
A frescura do mar
agora sal
na pele quente.
No estômago o café
o sal do mar
e agora uma cerveja.
A amargura refrescante
dos últimos dias
na ilha.
Antes da Mamos aquecer
secar
noutra sombra.
Simi, Julho 2024
João Bosco da Silva
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