À Beira Do Rio
No Bairro do Aleixo os táxis vêm e vão,
A vida fica suspensa numa agulha
Num descampado onde sombras não estão de verdade.
Chegam e vão-se vazios, ninguém vê, ninguém sabe quem foi,
Só o papel fica, uma mancha no chão,
Uma gota no canhão a ser vermelha, sinal da vida que se foi,
Uma chama desesperada na cápsula ferrugenta,
Ou na colher do veneno, o filtro ridículo de um cigarro consumido,
A sopa que não alimenta e suga o corpo à alma,
As pernas que se abrem numa insensibilidade
De quem espera menos umas gramas de dor,
Que gotejam uma morte lenta numa excitação animal,
O escuro de uma luz demasiado forte,
Fazendo esquecer os abcessos da alma,
Alguém que se deixou ali logo,
Porque não aguentou e metade nas calças,
As vozes da escola além do muro, ali, aqui mesmo,
Onde os táxis passam, onde os olhos se fecham pela cegueira
A que o êmbolo os empurra,
Onde os orgasmos parecem não chegar e nem se sentem,
Só algo a pingar, porque se deixou cair a seringa
E a veia como se uma lágrima rubra, do corpo que chora,
Que agradece num desesperado o fim de uma ausência,
Nas nuvens de algodão, onde não se sente nada,
Onde se fecham os olhos todos do corpo e da alma,
Se adia a miséria da realidade por mais um momento de ilusão.
No Bairro do Aleixo, com as torres que fazem sombra no rio que nasce
Longe destas misérias, o tornam mais escuro,
Com os carros da boa gente que passa, que finge que não vê,
A vida suspensa numa agulha, onde as crianças brincam e crescem,
As mães se vendem e se contagiam com tudo possível,
Até que o diabo se lembre de inventar algo mais,
Apontando-se ao céu como dedos ameaçadores, que culpam a ausência maior,
Os olhos que não vêem, os muros que são como uma mão aberta na cara,
A fingir que não se quer ver.
Os dentes caíram, o peso caiu, a vida arrasta-se levada por uma vontade
Além do animal e humano, sujando-se no estrume infértil de um tempo
Que é culpa de todos que nele vivem.
A luz vermelha acende-se, o dedo empurra o êmbolo,
Os olhos fecham-se, mesmo que pálpebras abertas, e o sol entra, feito de algodão.
16.04.2010
Savonlinna
João Bosco da Silva
No Bairro do Aleixo os táxis vêm e vão,
A vida fica suspensa numa agulha
Num descampado onde sombras não estão de verdade.
Chegam e vão-se vazios, ninguém vê, ninguém sabe quem foi,
Só o papel fica, uma mancha no chão,
Uma gota no canhão a ser vermelha, sinal da vida que se foi,
Uma chama desesperada na cápsula ferrugenta,
Ou na colher do veneno, o filtro ridículo de um cigarro consumido,
A sopa que não alimenta e suga o corpo à alma,
As pernas que se abrem numa insensibilidade
De quem espera menos umas gramas de dor,
Que gotejam uma morte lenta numa excitação animal,
O escuro de uma luz demasiado forte,
Fazendo esquecer os abcessos da alma,
Alguém que se deixou ali logo,
Porque não aguentou e metade nas calças,
As vozes da escola além do muro, ali, aqui mesmo,
Onde os táxis passam, onde os olhos se fecham pela cegueira
A que o êmbolo os empurra,
Onde os orgasmos parecem não chegar e nem se sentem,
Só algo a pingar, porque se deixou cair a seringa
E a veia como se uma lágrima rubra, do corpo que chora,
Que agradece num desesperado o fim de uma ausência,
Nas nuvens de algodão, onde não se sente nada,
Onde se fecham os olhos todos do corpo e da alma,
Se adia a miséria da realidade por mais um momento de ilusão.
No Bairro do Aleixo, com as torres que fazem sombra no rio que nasce
Longe destas misérias, o tornam mais escuro,
Com os carros da boa gente que passa, que finge que não vê,
A vida suspensa numa agulha, onde as crianças brincam e crescem,
As mães se vendem e se contagiam com tudo possível,
Até que o diabo se lembre de inventar algo mais,
Apontando-se ao céu como dedos ameaçadores, que culpam a ausência maior,
Os olhos que não vêem, os muros que são como uma mão aberta na cara,
A fingir que não se quer ver.
Os dentes caíram, o peso caiu, a vida arrasta-se levada por uma vontade
Além do animal e humano, sujando-se no estrume infértil de um tempo
Que é culpa de todos que nele vivem.
A luz vermelha acende-se, o dedo empurra o êmbolo,
Os olhos fecham-se, mesmo que pálpebras abertas, e o sol entra, feito de algodão.
16.04.2010
Savonlinna
João Bosco da Silva
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