quinta-feira, 13 de maio de 2010


Epifania Na Aurora

O tempo não muda, acrescenta.
...uma sensação de plenitude,
como quando olhava o céu estrelado nos verões quentes...
...o fascínio de uma aurora,
as mãos que podiam tudo antes de se lançarem ao trabalho...
...o meu tamanho a medir-se para dentro,
maior que o vazio dos dias negros...
...a vida é um momento de luz na escuridão,
um segundo de lucidez na loucura da noite eterna...
...o gato que brinca com as sombras,
eu que me rio invejoso da sua inocência...
...a ilusão tão real que se sente dentro,
o primeiro amor que deu vida aos primeiros poemas...
...tudo igual à primeira vez,
eu mais confuso e com o peso do pó dos anos...
...o ar fresco de um dia que nasce,
sem a noite ter morrido...
...a beleza da doçura de uma maçã nos dentes dela,
quando ela não está e só a maçã...
...os sonhos que deixaram de o ser,
agora mãos cheias de areia e os dedos finos...
...o mundo que não pára de encolher,
mesmo que cada vez mais pesado...
O tempo não muda, acrescenta.

13.05.2010

Savonlinna

João Bosco da Silva

1 comentário:

  1. É um texto genial. Lindo!
    Diria que se trata de um processo cumulativo de dores e imagens fixas nos olhos, na pele e na carne.
    Porque o tempo corre e deixa marca.

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