quarta-feira, 6 de outubro de 2010




Força


Dei-me conta, lá do fundo de um negro mal-estar,

Além das vísceras gastas pelas engrenagens do tempo,

Da dor de cabeça de uma noite tão inútil e deprimente,

De um dia cinzento mal gasto em sonhos de traição contida,

Que se me calar de vez, se deixar de ser, simplesmente como antes de ter sido,

Não haverá ninguém que note o súbito silêncio,

Ninguém dirá no escuro o meu nome esperando uma resposta,

Ninguém terá notado que eu passei, quis tocar,

Mesmo que tenha tocado tanto o interior de alguns corpos

Que logo arrefecem do meu calor e eu morro.

Quando estiver frio, os corpos quentes não se darão conta

Da ausência e essa é a pior morte.

O cansaço chame-me para apagar os dias

Mas a força desta dor impede-me de escrever a carta suicida,

Quando os anos já vão além do esperado

Porque nunca esperei muito de mim, nem anos de mim,

Sentado nesta cadeira, de onde vejo que está tudo feito.

Epifania como uma ejaculação de bílis no fundo de uma garganta queimada

Por horas de cigarros de tédio.



06.10.2010



Torre de Dona Chama



João Bosco da Silva

1 comentário:

  1. Existencialismo, existencialismo, existencialismo ...
    Noites melancólicas de Outono meu amigo ...

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