Dor Fantasma
Porque será que dói quando se perde alguém para sempre,
Mesmo que a morte não esteja na eternidade?
Vejo uma grande parte de mim entrar numa distância que me será impossível,
Depois de tanto tempo, tanta paciência e tantos gritos de punhos na mesa,
Tantas lágrimas embriagadas, tanta birra e tanto problema resolvido
Num orgasmo prolongado, nos lençóis com cheiro a detergente da roupa barato,
Vejo um membro amputado que não tinha manifestação no meu corpo.
Afinal sou além de mim e aquele corpo, aquele cérebro, foi meu e perdi-o,
Necrosou com o silêncio, o desprezo, o esquecimento por alguém que se julga melhor,
Sempre melhor o que fora de nós, a vida dos outros, só por não sentirmos as dores alheias.
Dói como um suicídio arrependido, uma amostra de morte, quando a porta se fecha
E se deixam correr as lágrimas livremente, nunca chegarão lá, inúteis,
Sempre inúteis, os sentimentos líquidos que escorrem
Quando o corpo não percebe a separação que a mente vomita angustiada, culpada.
Quem quer viver para sempre, se a maior dor é a da eternidade?
24.11.2010
Torre de Dona Chama
João Bosco da Silva
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