quarta-feira, 24 de novembro de 2010



Dor Fantasma


Porque será que dói quando se perde alguém para sempre,

Mesmo que a morte não esteja na eternidade?

Vejo uma grande parte de mim entrar numa distância que me será impossível,

Depois de tanto tempo, tanta paciência e tantos gritos de punhos na mesa,

Tantas lágrimas embriagadas, tanta birra e tanto problema resolvido

Num orgasmo prolongado, nos lençóis com cheiro a detergente da roupa barato,

Vejo um membro amputado que não tinha manifestação no meu corpo.

Afinal sou além de mim e aquele corpo, aquele cérebro, foi meu e perdi-o,

Necrosou com o silêncio, o desprezo, o esquecimento por alguém que se julga melhor,

Sempre melhor o que fora de nós, a vida dos outros, só por não sentirmos as dores alheias.

Dói como um suicídio arrependido, uma amostra de morte, quando a porta se fecha

E se deixam correr as lágrimas livremente, nunca chegarão lá, inúteis,

Sempre inúteis, os sentimentos líquidos que escorrem

Quando o corpo não percebe a separação que a mente vomita angustiada, culpada.

Quem quer viver para sempre, se a maior dor é a da eternidade?



24.11.2010


Torre de Dona Chama


João Bosco da Silva

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