Liberdade Em Helsínquia
Acordo numa manhã cinzenta e fria de Outubro,
Já Outubro, num quarto vazio de um hostel barato em Helsínquia,
O Báltico sente-se e a humidade dói quando há solidão.
Duas camas e eu a respirar sozinho, cansado, rei de um mundo sem gente,
Na parede o poster de uma multidão de mil novecentos e noventa, perto desta rua
E eu tão longe, longe de imaginar acordar aqui, hoje.
O jantar soube-me a pouco e sinceramente o apetite do resto era pouco,
Nem os olhos azuis da hospedeira me despertaram do cinzento,
Não desta vez, desta vez nem um hálito a álcool ao meu lado,
Púbicos nem tocá-los, cara de anjo e gritos de diabo no corpo,
Noutro hotel, há meia-vida atrás.
Fascinou-me o par do espelho, ela vinte e poucos, magra, bem metida nas roupas,
Quase que comia sobremesa, ele com uns trinta acima dela, desleixado,
Com uma carteira farta, parecendo um dos muitos de uma pequena terra qualquer do sul:
Russos e nem tenho que os ouvir. Ele paga e sobem os dois.
Não compreendo por que desta vez engulo a comida em seco, sem vontade.
Acordar sozinho, numa manhã tão fria, com fome e longe de tudo em Outubro,
Sem uma dor de cabeça, sem alguém à espera, a pensar em mil novecentos e noventa
Num dos meses de Verão, longe disto tudo, quase que sabe a liberdade,
Aquela da infância que se esqueceu.
24.11.2010
Torre de Dona Chama
João Bosco da Silva
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