terça-feira, 26 de abril de 2011


Amor ou o que for


Ela pergunta-me, pede-me, exige-me: diz que sou a única pessoa do mundo

Com quem queres foder! Claro! Mas sinceramente, o meu cérebro primitivo quer saltar

Em cada bicicleta que passa com vestidos coloridos, óculos de sol, nas saias, nas calças,

Nos passos lentos, nos apressados, nos saltos e nos pés, nos cabelos e todos os tons de dia

Ou de noite com as luzes da cidade, apenas o luar ou um céu estrelado,

Quer sentir os lábios, a textura dos batons e ser os olhos, as lentes, as cores artificiais,

As mãos no volante que sorriem e eu na passadeira à espera, os dedos no cabelo,

A voz rouca, a infantil, a língua sueca, uma russa ou outra, que engole o hálito

A pastilha de morango, as mãos suadas, o aroma a virilha aparada, a cera e excesso

De perfume francês, o casaco, a necessidade de pelo menos mais uma camisola,

Porque no fundo o que eu desejo é sentir algo mais do que o eu de todos os dias

E não é por não gostar de ti, é por gostar de tudo, do vestido negro e sol na cabeça

Que nem sei se vazia, mas barulhenta, o saco plástico e os seus segredos,

As cicatrizes da apendicectomia , do parto aos dezanove anos, o hematoma

Por causa do namorado filho da puta ou daquele Sábado à noite

Ao acordar em casa de um desconhecido Domingo de manhã e o sabor de outro

Ainda na boca e eu não quero saber, que sem saberem já se provaram

Umas às outras, os brincos, as orelhas pequeninas, as maiores, os olhares,

As bolsas e os seus labirintos, as ancas fartas onde vive deus

E onde está escrita a resposta à pergunta suprema.

Por isso desculpa-me a mentira, o Claro que sabes que é o que queres ouvir,

Que não é verdade, mas tem que se dizer para o mundo continuar a ser humano.



26.04.2011



Turku



João Bosco da Silva

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