Bater Palmas E Sete Palmos De Terra Nos Olhos
As mãos nunca perdem quando a luz se apaga,
E os bolsos cheios de nada, pesam a cada passo no vazio,
Por cima de todos os cadáveres que são o que se é,
Caras pálidas quase desconhecidas com medo de rugas
E nojo a cabelos brancos, olham com olhos de eternidade
O andrajoso presente, escravo de passados e futuros incertos
Com a certeza no passo em falso que espera na verdade da hora.
(Mais uma chávena de café da cafeteira de alumínio
Que não pertence a nenhuma avó, só o aroma quase infantil
Quase perdido entre o tempo que nunca mais voltará
E o tempo que poderá nunca chegar a ser,
Longe, perto das torradas com manteiga e açúcar.)
O limite é tão visível nas mãos, o fim da individualidade,
O início da partilha, seja qual for, as mesmas para rezar,
As mesmas para derreter as entranhas de uma mulher,
As mesmas que lhe abrem as pernas e auxiliam,
As mesmas que levam a comida à boca,
As mesmas que fizeram o sinal da cruz na cabeça do afilhado,
As mesmas que limpam o cu e as lágrimas e a boca,
As mesmas que mataram, que foram sujas com sangue,
Merda, mijo, terra, vinho, folhas secas, morte, esperma, vida,
As mesmas que suturam e cosem as meias rotas dos filhos,
As mesmas que são necessárias ao fellatio do cigarro,
As mesmas que empurram o embolo para a vida e para a morte,
As mesmas que acendem e apagam o interruptor
Quando à noite se ouve um barulho e há medo,
Ou há só medo, ou solidão e um momento esquecido
Nas mãos, que nunca poderão estar cheias, nem vazias
E nunca serão mais que mãos, com o seu vazio
De infinito, as suas possibilidades para fins e nada.
(A vela está quase no fim e os aniversários felizes acabaram,
Não se batem palmas para as dores que vêm e ficam, não se batem palmas
Quando as mãos têm atirado demasiada terra contra caixões
De quem já nos espera na eternidade.)
Agarra-se tudo com uma vontade, com um desespero,
Com uma fome, que até parece que a vida é definitiva.
01.04.2011
Turku
João Bosco da Silva
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